12 de dezembro de 2014

Mundo Cão (2001) - Papel e Película (Coluna)


Não são só os livros que dão origem a bons filmes: os quadrinhos são ótimas fontes de inspiração para o cinema. E não só de super-heróis vivem os filmes feitos a partir de quadrinhos. “Mundo Cão” é uma adaptação de quadrinhos típicos dos anos 90, que magicamente ganham vida nas telas: ali, no cinema, com todas aquelas cores típicas de gibi, a sensação que se tem é de que os personagens foram de fato despertados das páginas para as telas – e que personagens!

Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson) acabaram de se formar no Ensino Médio. Essa seria a época em que milhões de dúvidas surgiriam nas cabeças das meninas, mas elas são cool demais para isso. São melhores que os adolescentes chatos da mesma geração. Elas visitam brechós e colecionam discos de vinil. Quer dizer, elas não: Enid faz tudo isso, e na maior parte do tempo Rebecca a acompanha. E é em um desses brechós que Enid segue Seymour (Steve Buscemi), um homem meio estranho, o protótipo do nerd envelhecido.

Enid era hipster antes de os hipsters serem inventados. Na verdade, seu estilo é o que na época poderia ser chamado de punk. No meio do filme, por exemplo, ela simplesmente pinta o cabelo de verde. Mas a essência dela vai além da aparência, e em um ou outro aspecto todo adolescente se identifica com Enid, seja no mar de dúvidas que surge após o ensino médio, seja pelo marasmo e o desafio de viver em uma cidade pacata sendo diferente de tudo e todos, seja apenas pelo quarto decorado e bagunçado e pelo gosto por músicas que os mais velhos acham esquisitas.

Este foi o primeiro filme baseado em quadrinhos a receber uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. O diretor Terry Zwigoff, que por muito tempo alimentou a ideia de adaptar o trabalho do quadrinista Daniel Clowes para o cinema, fez uma modificação importante: deu ao personagem Seymour, que teve uma única aparição nos quadrinhos, grande importância no filme, e fez isto moldando o personagem de acordo com sua própria personalidade (por exemplo, ambos Zwigoff e Seymour colecionam discos antigos de jazz).

Feito como uma comédia de humor negro (é impossível levar a sério aquelas aulas malucas de arte), o filme pode adquirir outras interpretações e significados de acordo com as vivências e filosofias do espectador. O final pode desapontar alguns e gerar nas mentes mais férteis as mais loucas teorias.

“Mundo Cão” (também conhecido pelo título “Ghost World – Aprendendo a Viver” teve uma estreia frustrante e atraiu poucos milhões de pessoas às salas de cinema, terminando o período de exibição com um pequeno lucro. Entretanto, o filme participou de diversos festivais ao redor do mundo, foi muito elogiado pelos críticos e rendeu meia dúzia de prêmios a Steve Buscemi. Transformado em cult da noite para o dia, conseguiu sucesso nas locadoras (foi um dos filmes mais alugados de 2002). O respeitado crítico Roger Ebert chegou a escrever que “queria abraçar este filme. Ele inicia uma jornada arriscada e nunca dá um passo em falso”.

Thora Birch, de “Beleza Americana”, aparece gorducha e estranha, mas brilhante. Nunca mais a atriz teve um papel de tanto destaque. Sim, muito do efeito do filme depende dela, mas sem dúvida é a nossa identificação pronta e sincera o ingrediente principal para o sucesso desta película cult.

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