22 de agosto de 2011

Não Me Abandone Jamais - Cinefilia Literária


O ser humano coisificado ao extremo ou uma possibilidade de poder encarar a vida com mais propriedade, sabendo-se de antemão de um (algum) sentido que tanto procuramos?

Foi com essas hipóteses tão díspares que me peguei pensando após o término deste filme, embora muit@s o percebam acima de tudo pelo viés de ficção científica devido a ser retratado em uma realidade (ainda) inexistente, a meu ver a vertente dramática é deveras mais forte.

O livro inspirador do filme foi escrito por Kazuo Ishiguro, nascido no Japão, que mudou-se para a Inglaterra ainda criança. Esta obra lançada em 2005 foi considerada pela revista “TIME” a melhor daquele ano, Mark Romanek, mais conhecido por seus trabalhos em videoclipes, se diz fã de Ishiguro e decidiu levar a obra às telas.

Carey Mulligan (Educação), Andrew Garfield (A Rede Social e o próximo Homem Aranha) e Keira-chatinha-Knightley (Piratas do Caribe) formam o trio de protagonistas na idade adulta, as atuações dos dois primeiros são ótimas e Keira não compromete, confesso não gostar de sua forma de atuação, mas neste filme deu para aguentá-la. Temos ainda pequenas, porém fundamentais participações das maravilhosas atrizes Chalotte Rampling (Melancholia) e Sally Hawkins (Simplesmente Feliz).

Hora dos Spoilers. Agora é por sua conta e risco ;)

Estamos no final do anos 70, num tipo de internato chamado Hailsham, onde crianças são educadas de maneira rígida e severa, vamos conhecendo aos poucos a forma de vida dessas crianças por meio da narrativa no passado da personagem de Mulligan, chamada Kathy H, ela vai nos apresentando sua rotina, sua amiga Ruth (Knightley) e Tommy (Garfield) por quem é apaixonada, de maneira suave, doce até e num ritmo tranqüilo e mesmo delicado.

A personagem de Hawkins, Srta Lucy, tutora por curto espaço de tempo das crianças do 4º ano, entre elas, @s protagonistas, nos serve como um meio para entendimento do que realmente acontece naquele lugar, certas dúvidas levantadas por ela, também são as nossas e em certo momento cabe a ela a revelação chave do enredo, aquelas crianças na verdade nunca poderão seguir suas vidas como adultas normais, o sentido delas existirem é apenas científico, pois elas estão sendo criadas para serem doadoras de órgãos vitais no futuro.

Uma revelação e tanto não? Mas não espere atitudes drásticas, desespero ou qualquer outra coisa do tipo vinda das crianças, após ouvirem tal anúncio trágico, elas continuam impassíveis e assim permanecerão até a idade adulta. Apesar de essa atitude parecer estranha para a maioria ela não chega a prejudicar a história, que nos comove sem necessidade de exageros, o que verdadeiramente chegou a me incomodar foi a maneira de retratar tudo isso. Não sejamos ingênu@s ao ponto de imaginarmos que algo do tipo nunca poderá vir a acontecer, mesmo em se tratando de filmes com a temática da ficção científica muito mais presente do que este. Podemos encontrar hoje em dia exemplos de como algo antes “impensável” na realidade, hoje se tornou comum, para mim filmes servem como prenúncios de muitos fatos vindouros, a ideia também trazida nesta obra de que alguns seres devem se “sacrificar” em prol de outros com certeza passa pela cabeça de muitas pessoas, e isso é terrivelmente preocupante e perigoso, ou seja, não é algo que devamos apenas encarar como impossível, ficção.

Há outro elemento neste filme aparentemente esquecido ou não levado em consideração, pelo menos em outras críticas que li, a única forma clara do controle sobre a vida das personagens centrais, é um tipo de dispositivo que eles têm na mão esquerda, o qual sempre é acionado ao saírem ou entrarem em seus locais de moradia, não faz muito tempo, li em algum lugar, que mães e pais preocupad@s com a segurança de seus/suas filhos/filhas pensaram em utilizar algo do tipo em suas crianças. Já não bastam as câmeras que invadem dia após dia os espaços públicos de maneira intrusiva, também não está bastando poder ser encontrad@ a qualquer hora do dia ou da noite por meio dos celulares e mais ainda, não basta o famigerado GPS que dá a exata localização de quem o utiliza, não sei quanto a quem está me lendo agora, mas EU não concordo com essa aplicação da tecnologia e nem me sinto mais segura por estar rodeada de equipamentos que me vigiam, que me privam de minha liberdade de maneira quase acintosa.

Voltando ao filme, parece não ter havido grandes discussões sobre os temas levantados aqui nesta coluna, a denominação de ficção científica à qual a obra foi relegada parece ter transformado quase tudo nela em impossibilidades para a maioria das pessoas, um certo ritmo “arrastado” do filme para padrões “multipléxicos de ser” também pode ter afastado outras muitas de ir vê-lo no cinema, contudo, está mais do que recomendado não só como cinema em si, mas sobretudo como uma reflexão aprofundada desse ser tão esquisito que se autodenomina: Humano!




Ficha técnica:
Livro escrito por: Kazuo Ishiguro
Direção: Mark Romanek
Elenco: Carey Mulligan, Andrew Garfield, Keira Knightley, Charlotte Rampling,Sally Hawkins, Nathalie Richard, Andrea Riseborough, Domhnall Gleeson.

6 comentários:

  1. Muito interessante, quando eu vi o cartaz desse filme, e preguiçosamente não pesquisei mais sobre a obra, não me interessei pois essas imagens de divulgação em quadriculado com essas poses tem uma aspecto bem filme melodramático.

    Realmente me surpreendi, e parabéns pelo texto "Elisangela" , muito extenso e muito bom, vou procurar para assistir rs.

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  2. Realmente "Ewerton" o cartaz não ajuda em nada e no meu caso particular a imagem em destaque da Keira-deveras-chatinha-Knightley soh piorou a situação, foi com o intuito mesmo de ver o q acontecia que decidi vê-lo para comentá-lo aqui na coluna e que surpresa a minha também, já que deu muito certo, gostei mesmo do filme, depois que assisti-lo me diz o que achou...

    Bjos...

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  3. ...e após perdermos a privacidade, a individualidade, a capacidade de escolher(??) nosso destino, sobra o que essencialmente somos, antes de nos "treinarmos" para ser "humanizados"...

    Rosy

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  4. Será Rosy? Acho que nem isso sobra, infelizmente...

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