21 de agosto de 2014

As Palavras (2012) - Papel e Película (Coluna)


Melhor que um filme sobre escrever livros, só um filme sobre um livro sobre escrever livros. Ficou confuso? Bem, a história de “As Palavras” pode ser um pouco confusa com suas várias mudanças no tempo, incluindo flashbacks efast-forwards arrojados, mas ao mesmo tempo é daquelas de deixar qualquer espectador boquiaberto... e os escritores com uma pulga atrás da orelha.

Rory Jansen (Bradley Cooper) é um escritor como outro qualquer: idealista, ambicioso, em busca da história perfeita. Ele já escreveu um livro, mas foi recusado pela própria editora onde trabalha (quem disse que se infiltrar no negócio é o melhor caminho?). Mas ele acaba encontrando a história perfeita dentro de uma velha mala comprada em um antiquário europeu. Está tudo lá, escrito à mão em páginas amareladas por mais de cinco décadas de sumiço: é uma história de amor em meio à Segunda Guerra Mundial. Só resta a Rory digitar palavra por palavra e depois curtir o sucesso. Até que o verdadeiro dono do manuscrito aparecer.

Mas toda esta trama é parte de um livro escrito por Clay Hammond (Dennis Quaid), um autor badalado que apresenta seu novo livro, “As Palavras”, em uma grande leitura para um auditório cheio. No intervalo da leitura, ele é apresentado para a curiosa Daniella (Olivia Wilde), que, assim como o espectador, não sabe se a história de “As Palavras” é autobiográfica e se Rory é alter-ego de Clay.

O plágio é um assunto que arrepia os cabelos de qualquer escritor. Há o escândalo que pode ser causado por uma acusação, infundada ou não, o que não é o caso do filme, pois o dono do manuscrito (interpretado pelo ótimo veterano Jeremy Irons) não quer nenhuma publicidade ou indenização pela publicação de sua história. Ele quer apenas que Rory assuma seu erro. E talvez seja essa a maior questão do plágio: como o plagiador consegue colocar a cabeça no travesseiro todas as noites e dormir tranquilo, sabendo de sua desonestidade?

E não é que o próprio filme foi acusado de plágio? Ele lida com o mesmo tema (publicar uma história que não é sua) do filme alemão “Lila, Lila” (2009), em que Daniel Brühl vive um garçom que quer impressionar uma moça e para isso publica um manuscrito que não é de sua autoria. “Lila, Lila” é uma adaptação do romance de Martin Suter, publicado em 2004. O grande problema é que... o roteiro de “As Palavras” foi escrito em 1999! Os roteiristas tinham um álibi neste caso: o protagonista Bradley Cooper, amigo deles, que havia lido o roteiro logo depois de terminado. Bradley prometeu estrelar o filme e de fato o fez, mesmo que 13 anos tenham se passado.

Surpreendentemente, o filme foi muito criticado e acusado de ser “pouco interessante” e “não muito sagaz”. Pela sinopse, já é possível perceber toda a sagacidade do filme. Sobre ser desinteressante, talvez o grande trunfo da película esteja realmente no seleto grupo de espectadores que também pensa sobre a indústria do livro e está disposto a discutir o plágio e analisar a verossimilhança do enredo. Por outro lado, quem soube apreciar o filme ficou com vontade de ver mais e mais, e este é o grande trunfo de “As Palavras”: fazer o mundo do cinema levantar uma questão que parece só existir na literatura.

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