Não foram poucas as vezes que vi olhares decepcionados quando falei em público que gostaria de ser escritor de ficção. Aparentemente, as pessoas esperavam algum sonho maior e mais útil tanto do ponto de vista financeiro como no aspecto de uma suposta relevância social.
O motivo disso é que em vários ambientes (acadêmicos diversas vezes) costumamos ouvir o velho e ignorante discurso relacionando literatura de ficção a uma espécie de entretenimento sem grande valor de conhecimento; o que popularmente nos acostumamos a chamar de "passatempo".
A ideia surge de uma valoração superficial do texto; útil apenas como meio de adquirir uma informação prática a respeito de algo que vá ser usado futuramente. Nada poderia ser mais coerente com o valor de investimento "lucrativo/financeiro" que a sociedade atual atribui ao conhecimento de forma geral.
Neste contexto, infelizmente, quem tem uma forte identidade com a ficção acaba sofrendo preconceito porque seu hábito ou profissão não parece útil quando comparado com os ofícios usuais; entre eles o próprio ato de escrever só que com finalidade jornalística e rigor científico.
Nós que entendemos de literatura ao menos um pouco sabemos, porém, que a deficiência de parecer inútil está tão somente na visão estreita e rudimentar de quem julga desta maneira.
Uma observação nem tão profunda, mas um pouco menos alienada, revelaria com facilidade que as histórias ficcionais, em seu papel representativo e alegórico, às vezes são bem superiores ao texto somente descritivo. Estão aí os clássicos que mudaram e conduziram a humanidade e estão aí também aqueles modestos livros que apesar de talvez não terem alcançado este status, influenciaram de forma irrevogável vidas particulares como a minha e a sua.
Hoje em dia é triste perceber como o pensamento alienado, tão arraigado em nossa sociedade, fez com que muitas pessoas entendessem a inutilidade daquilo que pode ser transformador. Por meio disso, a ficção é desvalorizada e a ignorância (essa sim de valor duvidoso) persiste para alegria daqueles que comandam uma massa que tem dificuldade de pensar por si.
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