Pâmela Gonçalves (Garota It) - Entrevista

(montagem sobre fotos do site Garota It e Skoob)

Pâmela Gonçalves tornou-se conhecida na internet por conseguir aliar qualidade e proximidade ao público nas resenhas de livros que faz no seu site. Hoje o "Garota It", que nem tem 2 anos, já é referência para várias leitoras interessadas em livros do gênero Young Adult e pessoas em geral que apreciam o texto bem escrito e espontâneo da blogueira.

Pâmela gentilmente respondeu as perguntas do nosso site sobre sua relação com literatura, o sucesso como blogueira e outros assuntos relacionados ao mundo dos livros que podem ser conferidos nesta entrevista.

Leia Literatura: Obrigado por ter aceitado o convite do nosso site Pâmela, acho que é uma pergunta recorrente mas não pode deixar de ser feita; de onde surgiu o seu interesse por literatura?

Pâmela Gonçalves: Na verdade não lembro. Acho que sempre gostei de ler, mas a grandes responsável por eu me interessar mais por outros livros foi a Meg Cabot. Foi por ela que comecei a procurar saber mais sobre outras obras.

O que representa ser uma blogueira referência em assuntos literários?

Não me considero uma blogueira de referência, apenas uma leitora que outros leitores têm algo em comum e se interessam pelo que eu gostei mais ou não. Um tipo de opinião que levam em conta, assim como qualquer outra pessoa que indica ou não livros para eles. 

Você é conhecida por fazer resenhas que ao mesmo tempo que tem profundidade geram identificação das leitoras. Existe um meio simples de se tornar uma crítica de livros que agrade o público sem, no entanto, deixar de ser autêntica?

Acho que o que agrada aos leitores do blog é que quando eu não gosto eu falo que não gosto. Não adianta eu chegar e falar que amei todos os livros, isso gerará desconfiança e perde a credibilidade quando esse mesmo leitor lê o livro e não tem essa mesma percepção. É claro que opiniões se divergem, mas quando o leitor percebe que o que o blogueiro está dizendo é sem um fundamento verdadeiro irá perder o interesse. Quem lê resenhas para saber o que acharam do livro é justamente para não "gastar dinheiro" em algo que talvez não vá gostar, e assim dar preferência para um outro que tem mais chances. Então como confiar em alguém que não diz a verdade? 

O que pode não agradar o público é quando um clássico, ou um livro muito famoso sofre críticas negativas. Mas daí tem que saber escrever uma crítica sem ofender ou ser estúpido. Já aconteceu de muitas vezes quem amou um livro que eu critiquei de forma negativa, acabar concordando comigo em alguns pontos. É questão de posicionamento e como se expressar.

Os livros mais abordados por você são os denominados como Young Adult, esses são as suas obras de predileção ou há uma intenção de atender a demanda dos leitores do site?

Esses são os livros que eu realmente prefiro. É claro que a partir disso gerou um público que identifica com o blog justamente por ter esse gosto em comum. 

Alguns criticam o gênero literário YA como deficiente classificando as histórias como literatura apenas de entretenimento, sendo assim inferiores em qualidade às chamadas obras-primas. Você concorda com esse ponto de vista?

Não concordo. Há uma grande generalização em matéria de livros YA. Há vários tipos de obras e é claro que tem aquelas mais para entretenimento, porém tem outros livros ricos em conteúdo e que tem colocam para pensar. O sucesso dessa categoria está fazendo com que ela mesma se enriqueça com livros cada vez melhores. Além disso obras-primas de hoje em dia já foram consideradas fracas em sua época. Não duvido que Harry Potter se torne um clássico da literatura (não só para jovens) em um futuro próximo. 

A literatura no Brasil está muito distante de ser algo natural em nosso dia-a-dia, como você acredita que a prática da leitura pode ser incentivada de maneira eficaz em nosso país?

A literatura está distante ainda de se tonar algo natural. Acredito que já tenha evoluído muito com o sucesso das adaptações cinematograficas que geram curiosidade para os livros que foram baseadas. Mas ainda há muito caminho pela frente. Sempre defendi que o maior preconceito que as pessoas têm com a literatura sejam as obras obrigatórias da época da escola. Quando um jovem inicia seu caminho de leitura em algo que para ele acaba se tornando difícil de entender e cansativo de ler, é óbvio que ele vai generalizar e não querer mais saber desse tipo de tarefa. Quando a pessoa lê algo que gosta é que descobre como é fantástico esse mundo. Tanto é que já ouvi várias pessoas falando que não gostavam de ler antes de ler tal livro e que agora estão em busca de outros do mesmo estilo, ou obras mais intensas. 

Sempre digo que a pessoa que não gosta de ler é porque ainda não encontrou o livro certo.

Os chamados "e-readers" estão mudando a nossa visão de leitura, você acredita que a literatura em papel pode ser superada ou mesmo deixar de existir em virtude dos meios digitais?

Não acredito que deixe de existir, mas com a popularização dos e-readers possa se tornar mais comum o hábito de ler. Já vi muita gente que lê e estuda muito na internet, mas morre de preguiça de pegar um livro físico. Esses e-readers poderiam conquistar um outro público, e pela tecnologia baratear a compra dos e-books. 

Porém isso não substituirá os livros de papel, assim como diversas outras tecnologias não substituiram as mais antigas. É só questão de aperfeiçoamento.

Como você vê a iniciativa de grupos de fãs que traduzem obras e disponibilizam na internet? Eles estariam incorrendo em um crime ou apenas ajudando na divulgação e democratização da leitura?

Esse é um assunto polêmico. Acredito que quando um livro não foi publicado no Brasil faz sentido essa mobilização para a tradução, e justamente por serem fãs e querem logo saber o que acontece. Mas quando é algo que já está aqui e a pessoa digitaliza e distribui eu não concordo. Comprando os livro é o que indicará ao autor/editora que essa obra fez sucesso. Eu mesma já li e-books que eu não tinha condições de comprar ou não tinham no Brasil, mas hoje estou comprando todos esses livros para poder de alguma forma estar "legalizada" hahaha.  Quanto a segunda perguntas não há dúvidas que isso é crime. 

Dentre as autoras e autores atuais no Brasil quem você destacaria como sendo escritores de grande qualidade?

Paula Pimenta, Drica Pinotti, Babi Dewet, Enderson Rafael e Fábio Henckel. 

Depois de anos lendo e escrevendo você não tem vontade de escrever e publicar um livro próprio?

Tenho vontade. Mas falta conseguir terminar as obras que comecei e dedicação para aprimorar. Acho que é um sonho para um futuro um pouco distante ainda. =D 

Quanto de sua vida é dedicado ao "Garota It"?

Boa parte da minha vida hoje em dia. Porque agora encaro muito como um trabalho. Um trabalho que eu amo fazer.

Na sua opinião qual a razão do seu sucesso no ambiente virtual?

Quando as pessoas dizem que faço sucesso morro de vergonha, ahhaaha, não acredito que eu faça sucesso. Mas acho que de alguma forma ter algum reconhecimento vai do trabalho duro e dedicação. Adoro postar no blog e trazer novidades, conversar com os leitores, e claro, ler. Acho que a dica é gostar do que faz e se dedicar a isso. 

Como é de praxe em nosso site nossa pergunta temática: Por que Ler Literatura?

Para viajar sem sair do lugar (meu deus, que resposta cafona!) hahahah.

Sei que é difícil mas descreva para nossos leitores e leitoras, e potenciais escritores porque não, características que não podem faltar em uma obra de sucesso que possua qualidade?

Originalidade. É meio óbvio isso, mas é o que muitas vezes falta em uma obra que tinha tudo para ser legal. Influências existem, mas um livro não pode ser uma colcha de retalhos. Coloque uma pitada de você no livro, deixe alguma coisa que faça os leitores de reconhecerem e lembrarem porque gostaram do livro.

Muito obrigado pela entrevista Pâmela, para encerrar deixe um endereço seu na internet onde alguém que deseja interagir com você tenha mais facilidade de encontrá-la.

Eu que agradeço! Adorei as perguntas. Visitem o blog www.garotait.com.br e podem sempre me encontrar no twitter: @garotait!