23 de abril de 2011

Diario De Guantánamo: Os Detentos E As Historias que Eles Me Contaram - Crítica



A Prisão da Baía de Guantánamo em Cuba é uma contradição aos princípios democráticos, é essa a preocupação de Mahvish Khan, afegã que que escreveu um matéria marcante para o jornal The Washington Post que depois foi expandida e transformou-se em um best-seller de sucesso que ajudou muitos leitores a conhecer melhor a realidade do local, onde leis primárias se curvam aos interesses políticos da visão de mundo imperialista e paranóica dos EUA.


A obra é basicamente um diário jornalístico que não tem grandes pretensões literárias, o objetivo é ser um transmissor mais completo que amplie em detalhes a matéria publicada no jornal, e é justamente isso que vemos quando lemos a obra, vários detalhes que partem da mais abjeta tortura humana a pequenos e curiosos fatos de advogados e repórteres, na temporada que passam no presídio defendendo seus clientes. Porém, essas pequenas fugas  nunca se ampliam, sempre há uma retomada da narrativa original para salientar a razão do escrito; mostrar o tratamento desumano e criminoso para com os presidiários, muitos deles prováveis inocentes, e a defesa da autora de que todos que estão ali mereceriam no mínimo um julgamento justo.

O problema da obra é que Mahvish Khan faz questão de dizer isso vezes demais, ela parece não ter segurança suficiente na força dos seus relatos por si só. É comum vê-la adotar uma posição defensiva afirmando que está ciente de que sabe que as história que colheu em meio aos prisioneiros (o tronco do livro) podem ser fantasiosas mas que mesmo assim teriam o direito de ter um julgamento de acordo com as leis aplicadas a quaisquer cidadãos.

O leitor não precisa se esforçar para concordar com Mahvish Khan, na verdade qualquer pessoa em geral não teria problemas em concordar que quaisquer pessoa humana merece ter direitos, é evidente até, e a repetição desnecessária desta evidência incomoda.

Todavia a obra se desenvolve bem, até porque o ponto em que a autora quer chegar ao convencê-lo de que Guantânamo é um lugar que contradiz os princípios democracia e dos direitos humanos é logo aceito sem grandes dificuldades. A partir daí o leitor vai se informando com as histórias dos prisioneiros que demonstram quão injustas foram suas prisões. Uma história recorrente nesse sentido é a prisão por pequenos desentendimentos internos, como os EUA ofereciam recompensas para a captura de terroristas muitos cidadãos ficavam interessados, por isso quando havia algum tipo de desavença entre inimigos locais o mais inescrupuloso não pensava duas vezes antes de acusar seu antagonista, assim se livraria de um "incômodo" e simultaneamente lucraria com isso. Ainda neste aspecto é curioso ressaltar que as recompensas muitas vezes ultrapassavam o lucro que um afegão comum ganharia em anos, ou seja, acusar alguém era mais do que lucrativo e os EUA nunca foram especialistas na triagem de inocentes e culpados.

Por isso, Diário de Guantámo é uma importante obra a ser lida, escrita com linguagem extremamente simples e descritiva ela informa sobre questões que a maioria ignora, e mesmo que muitos dos depoimentos ali descritos tenham sido exagerados e fantasiados (e realmente isso ocorre) é claro que aquele lugar é uma afronta a qualquer concepção humanitária de punição.

Ewerton Gonçalves


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente e Dê sua Opinião Sobre O Tema.

Lembrando que qualquer opinião com boa educação é muito bem-vinda, mas ofensas são excluídas.

(obrigado pela visita, volte quando puder)