(Foto: esopedirtrans.blogspot.com) |
Quando algo é descrito como clássico em geral não se tem muito o que comentar, afinal uma das características da obra que recebe essa denominação é que mesmo depois de anos (muitos anos) a obra ainda é atual e tem a mesma força, ou até maior, do que quando foi lançada. Se isso já não fosse bastante o clássico é assim chamado por sua qualidade ser um fato praticamente unânime e sua existência ser inspiração para dezenas ou centenas de livros (neste caso) vindos posteriormente.
O Primo Basílio é considerado um clássico da literatura portuguesa, atestar a qualidade da obra é quase uma obrigação e eu teria de ser muito ousado para discordar, felizmente posso economizar minha ousadia posto que eu gostei muito da obra.
A linguagem é simples e acessível, um termo ou outro mais arcaico se não foi modificado por adaptações pode ser logo decifrado numa rápida consulta ao dicionário. Você vai ler sem qualquer dificuldade e tudo vai soar extremamente compreensível. Agora, como é sabido, Eça de Queirós (o autor, tudo bem eu sei, é óbvio, mas talvez alguém não saiba) adora ser irônico e crítico, portanto em cada uma das várias e pormenorizadas descrições sempre há muitas revelações de sua postura crítica social (a indolência da sociedade portuguesa da época) e análise mordaz ao revelar os "podres" da mesquinharia, orgulho, mediocridade e tudo mais aquilo que há de pior no ser humano, tudo de forma natural o suficiente para você logo comparar a alguém (ou a você mesmo, porque não). Para perceber todas essas sutilezas aí sim faz-se necessário atenção redobrada.
O Próprio Basílo, que batiza a obra, é um exemplar da pior (ou melhor) espécie de canastrão, sabe aquele comportamento do homem que se aproveita da mulher e tal, Basílio provavelmente e a encarnação histórica deste papel de home canalha, possuindo todas as prerrogativas dessa personagem que habita o imaginário popular.
Talvez aí aja o que mais se aproxima de defeito na obra, na tentativa de fomentar uma crítica contundente a sociedade e aos portugueses em particular Eça acaba por deixar as personagens muitas vezes mais simbólicas do que realistas... Para simplificar pense em Hitler (veja só que exemplo) todos o condenam como um monstro e ponto, e não estão errados, mas muitas vezes se esquecem de que ele podia ser amoroso com alguém que gostasse, ou seja, as personagens de Eça de Queirós acabam sendo medíocres por completo muitas vezes, quando na realidade sempre há mais complexidade do que pensamos à primeira vista, a maioria dos medíocres teve seu momento de altruísta ou de filósofo.
Agora Você leitor mais novo que gosta desses romances modernos com vampiros lobos e tudo isso, talvez não aprecie muito . Eu ressaltaria dois motivos principais para isso, o primeiro é que não tem vampiros lobos (evidente) e segundo o ritmo da obra que é muito mais lento do que se está acostumado, o livro vai orbitando em pequenos acontecimentos do cotidiano, os de maior apelo só ocorrem com intervalos de boas dezenas de páginas. Óbvio que nada disso é defeito, muito ao contrário, o ritmo é uma das grandes qualidade da obra, os acontecimentos vão acontecendo com a naturalidade do fluxo do dia-a-dia, mas o imediatismo das obras atuais pode criar maus hábitos.
Primo Basílio é um clássico acessível sob todos os aspectos e uma leitura maravilhosa a todos aqueles que apreciam boa literatura.
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4 de 5 (Muito Bom)
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