14 de outubro de 2014

A Onda (2008) - Papel e Película (Coluna)


Estamos na semana em que se comemora o dia dos professores. Se esta data é para ser celebrada ou não ou se os professores ainda têm muito por que lutar não são os questionamentos que esse texto fará. Perguntaremos como um mestre pode mudar a percepção de seus pupilos. É óbvio que todos temos aquele professor favorito, que pode ter sido uma fonte de inspiração ou ter mudado nossas vidas por completo. Ron Jones mudou a vida de muitas pessoas, fazendo uma perigosa experiência que é comentada mais de 45 anos após ter sido criada.

O professor de ciências políticas Rainer Wenger (Jürgen Volger) queria mesmo era se dedicar ao tema da anarquia durante um projeto escolar de uma semana, mas outro professor apresentou um projeto sobre o tema antes dele. Resta a Rainer o tema da autocracia. Na primeira aula, ele percebe que seus alunos acreditam que vivem em uma sociedade evoluída demais para aceitar o início de uma ditadura. E é assim que começa uma experiência pedagógica cujos resultados, Rainer aprende, não podem ser previstos.

Começando com conversas normais entre professor e alunos, ele vai moldando a mente dos estudantes, salpicando aos poucos características dos regimes totalitários no dia-a-dia da classe. A estranheza atinge alguns alunos quando o professor faz exigências como ser chamado apenas de “Herr Wenger”, só ouvir os alunos quando eles se levantarem para falar (porque “melhora a circulação”) e exigir o uso de um uniforme exclusivo da turma. O entusiasmo toda conta quando os alunos criam uma saudação e um símbolo para o grupo, e a euforia é total quando eles percebem o que são capazes de fazer se juntam suas forças.

Há, claro, os dissidentes do movimento, como Karo (Jennifer Ulrich), redatora do jornal da escola, que se torna um corpo estranho no grupo ao se recusar a usar a camisa branca do uniforme da turma. A partir de então, ela passa a ser uma contestadora dos métodos pedagógicos de “Herr Wenger” e inclusive briga com o namorado ao sair do grupo e iniciar uma cruzada impressa contra “A Onda”. Ao mesmo tempo, há os alunos cegos pela oratória de “Herr Wenger”, e o caso mais preocupante é o de Tim (Frederick Lau), um garoto deslocado que passa a viver exclusivamente para o movimento.

O filme começa com aquela frase capaz de arrepiar os cabelos de qualquer espectador: “baseado em uma história real”. A experiência de criar um governo fascista em pequena escala manipulando os alunos foi feita por um professor americano, Ron Jones, em 1967. A história da experiência foi contada na televisão em 1981, como um especial de dramaturgia com menos de uma hora de duração. Apesar do pouco tempo para desenvolver a história, o filmete acabou rodando muitas escolas como material obrigatório e ganhou três prêmios por sua qualidade e méritos acadêmicos.

O programa televisivo deu origem a um livro, “The Wave”, contando uma versão da história cheia de licença poética. O experimento original envolveu cerca de 90 alunos de classe média-alta do Vale do Silício, numa época em que a Guerra do Vietnã era manchete e os hippies estavam prestes a pregar paz e amor. O cenário era ideal para um experiência política transformadora (e talvez devastadora), que chamou a atenção do país todo e marcou para sempre o professor Ron Jones, então com 25 anos (hoje Ron é escritor).

Em 2007, já em solo alemão, a história foi contada em uma graphic novel, e em 2008 surgiu o filme, ambientado na Alemanha atual (daí os temas e o desfecho que, é claro, eu não vou contar para não estragar a surpresa). “A Onda” também invadiu os palcos: Ron Jones arregaçou as mangas e adaptou a história para o teatro, inclusive abrindo mão de alguns direitos autorais para que a peça possa ser encenada em qualquer instituição de ensino do mundo. Depois de duas adaptações musicais, Jones voltou novamente ao teatro para ele próprio escrever e produzir um musical em 2010. No mesmo ano, um de seus ex-alunos e participante do experimento original lançou um documentário sobre o que realmente aconteceu naquela turma de 1967, com entrevistas diversas dos envolvidos.

Às vezes, os filmes parecem ser muito fantasiosos com suas tramas, coincidências e reviravoltas. Mas é aí que vemos que a vida em muitas ocasiões tem um excelente roteirista. A experiência feita por Ron Jones em 1967 pode não ter sido trágica, mas foi muito influente. Ron é um dos professores que mudaram o mundo? Talvez não, mas sem dúvida ele fez suas ideias alcançarem milhões de pessoas – muito mais do que conseguiria em uma vida na sala de aula.


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