17 de setembro de 2014

Adeus, Minha Rainha (2012) - Papel e Película (Coluna)


Um filme histórico pode parecer previsível à primeira vista: você já sabe que haverá muito luxo nos figurinos, cenários grandiosos e, se for um pouquinho versado no assunto, pode imaginar como tudo vai acabar. Mas isso não acontece quando a voz narrativa é dada para uma tímida coadjuvante de Versalhes, que morre de amores por Maria Antonieta. É isso que acontece em “Adeus, minha rainha”, drama francês que prova que Léa Seydoux já era uma boa atriz antes de ganhar destaque internacional com “Azul é a cor mais quente”.

A Revolução Francesa está para começar, e ninguém em Versalhes desconfia disso. A rainha Maria Antonieta (Diane Kruger) vive em meio ao luxo e às companhias igualmente nobres e fúteis. Ela tem diversos criados, entre eles a ledora Sidonie (Léa Seydoux), cuja função é apenas ler livros em voz alta para Vossa Majestade. Sim, porque os olhos reais não devem se cansar lendo livros. Mas Sidonie não pensa no absurdo de sua profissão: a moça, órfã e sozinha no mundo, tem uma devoção cega por Maria Antonieta. Ela faria de tudo para o bem da rainha. E talvez tenha mesmo que se sacrificar quando estoura a revolução.

Entre muitas informações desencontradas e um caos generalizado, a nobreza vai tomando conhecimento da gravidade do levante que acontece a partir da Bastilha. Eles vão então abandonando a família real, pois agora é cada um por si. Alguns, entretanto, recebem especial atenção da rainha. Uma das favoritas de Maria Antonieta é a Duquesa de Polignac (Virginie Ledoyen). A relação da rainha com a duquesa tem ares de amizade colorida, e a mulher mais poderosa da França não vai medir esforços para que sua protegida escape intacta dos revolucionários que pedem a cabeça da aristocracia.

Os filmes sobre Maria Antonieta foram aos poucos se tornando cada vez mais femininos – e feministas – até chegar ao auge aqui. As histórias de Maria Antonieta no cinema começaram, obviamente, na França, e em 1912. Na maioria das vezes, a rainha aparece como uma das coadjuvantes nos filmes sobre a Revolução Francesa. Em 19378, ela foi o assunto principal do suntuoso “Maria Antonieta”, que contava como a aproximação da rainha e de um duque sueco mudou o comportamento da soberana.

Em “Adeus, minha rainha”, o foco novamente é em Maria Antonieta e sua vida amorosa pouco convencional (sobre a qual nada foi comprovado). O rei Luís XVI mal aparece e as mulheres são mostradas como a força motriz por trás de Versalhes.

A bela e talentosa Diane Kruger tinha muito em comum com Maria Antonieta, embora ela não fosse a primeira opção: Eva Green desistiu do projeto por conflitos de gravação. Mas as coincidências provam que Diane era a melhor escolha: Diane e Maria Antonieta são de origem germânica (a rainha era austríaca, a atriz é alemã), ambas aprenderam francês por obrigação (a rainha para se casar, Diane para seguir a carreira de modelo) e as mães de ambas têm o mesmo nome.

A historiadora Chantal Thomas escreveu um livro desmistificando as histórias sobre a loucura megalomaníaca de Maria Antonieta. Três anos depois, ela publicou o livro “Adeus, minha rainha”, que ganhou o prêmio Prix Femina, honra centenária concedida por um júri só de mulheres que escolhem as melhores publicações do ano na França. Chantal foi uma das responsáveis pela adaptação do livro para as telas, junto com o roteirista Gilles Taurand e o diretor Benoît Jacquot.

Muitos criticaram a pouca expressão de Sidonie como narradora no filme e no livro. Ela prefere dar detalhes sobre as situações que fazer o leitor / espectador se sentir inserido nelas. Talvez isso tivesse mudado caso a autora do livro não s envolvesse com o filme, mas aí está a grande sacada, que inclusive pontua ambas as obras: a ledora de Maria Antonieta não é ninguém sem a sua rainha.

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