22 de novembro de 2011

A Louca da Casa (Rosa Montero) - Crítica / Resenha


Edição: Pocket Ouro / Ediouro - 2009
Sinopse
Em 'A louca da casa', a jornalista e ficcionista Rosa Montero fala da literatura, dos escritores com suas histórias e personagens, da imaginação e da narrativa ficcional. Mas aos poucos, para a surpresa de quem lê, a autora se oferece em espetáculo no ato de imaginar e criar uma narrativa literária com a sua própria biografia, e do mesmo modo vai revelando os segredos da corporação dos escritores. Surgem então os fingimentos de Goethe, a doença de fracasso de Walzer e a síndrome do sucesso de Capote, o drama do reconhecimento póstumo com Melville, o egoísmo de Tolstoi, a vaidade de Calvino, de modo que as entranhas da criação literária vão se tornando íntimas. Enfim, ficção, ou uma fabulação sobre os inventores de fábulas, a obra vai revelando como a vida de qualquer um de nós não funciona de modo diferente das narrativas ficcionais.Um dia, numa banca de revista qualquer, me deparei com um livro custando R$ 9,90. Fora o preço e algumas indicações presentes na contracapa não sabia nada sobre, tampouco acerca de sua autora, a jornalista Rosa Montero, cujo o único atrativo para a minha ignorância era ser uma escritora do sexo feminino; o que costuma não ser muito recorrente.


Quando me deparei com este livro o único atrativo que tive foi o preço; R$ 9,90. Parecia um valor muito razoável para ousar na aquisição de uma obra que eu desconhecia plenamente. Da mesma forma que nunca havia ouvido falar da jornalista espanhola Rosa Montero, a autora, que me atraiu apenas por ser mulher, o que é raro na minha minha "biblioteca" pessoal.

Felizmente ao ler as primeiras páginas pude perceber que o meu pequeno investimento havia valido a pena, A Louca da Casa se mostra com um interessante romance intimista, que traduz a personalidade da autora por narrações de histórias alheias e invencionices acerca da própria.

Como a escritora salienta desde o início, a obra tem como pretensão ser um ensaio livre sobre a relação entre ela e o ato de escrever. Desse argumento surgem diversas divagações acerca dos impulsos que movem aqueles que escrevem, suas diferentes motivações e os movimentos que os guiam. Para ilustrar surgem histórias sobre a vida e a obra de diversos autores que fazem parte de sua formação cultural.

Outro componente importante na analogia é a própria vida de Rosa Montero em seus anseios literários. O que chama atenção, porém, é que autora nem de longe se preocupa em si biografar, tal caráter ficar evidente nas três formas com as quais ela narra o seu encontro com o provavelmente fictício personagem "M.". Em todas elas existem similaridades com a profissão dele, a maneira pela qual se conheceram, a dificuldade de comunicação que tiveram... Mas cada uma das vezes mudanças significativas ocorrem encaminhando para um novo desfecho que abre margem para igualmente novas divagações acerca da vida.

É muito positivo o contraste que a escritora consegue impor quando a autenticidade de seus relatos íntimos aparece diante de uma história pessoal, ao menos parcialmente, ficcional. Com isso a obra consegue exceder o caráter explícito de informação e ganha uma dimensão  imagética completamente coerente com sua proposta de valorização daquilo que, mesmo não sendo, acaba por ser, e ser em protagonismo. A criação da sua irmã inexistente, a Martina, é o melhor exemplo dessa ficção que se propõe verdadeira.

A dificuldade do livro, porém, é que se trata de uma obra feita com objetivo de atender aos anseios da autora. O fluxo, portanto, é irregular com momentos que evocam a uma reflexão mais profunda enquanto outros são mais rasos e pueris, por assim dizer.

A Louca da Casa é metalinguagem pura, escrever sobre a escrita, e por isso abre margem para diversas possibilidades, e como acontece nesses casos várias parecem terem sido ignoradas o que pode vir a incomodar o leitor mas que faz sentido dentro de uma proposta de experimentação autoral.

O leitor, por sua vez, tem de ter um interesse que exceda a simples fascinação por aquilo que é contado. Ele tem de gostar do processo em algum nível, tornando-o mais aberto a biografia do inexistente e as variações de ritmo propostas por Rosa Montero. 

Por fim, me arrisco a dizer que a autora passa a impressão de que lhe falta mais maturidade para formular um tratado original cujo valor artístico alcance o nível daquilo que impressiona e arrebata.

Assim A Louca da Casa parece um interessante mergulho de Rosa Montero em si mesma, que tem por características agradar mais aos que se identificam em alguma instância mas que não abre margem para discutir a honestidade na aplicação da proposta.


(3 de 5 / Bom)


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